Você sabe receber mulheres em sua equipe?

Já se sabe que a maioria dos líderes das equipes de jiu-jitsu são homens. A questão é: você sabe receber mulheres em sua equipe? Já pensou que existem algumas coisas básicas e simples que podem ser feitas não apenas para recebê-las em seu tatame, mas para mantê-las em atividade?

Muitas mulheres se sentem intimidadas ao iniciarem o jiu-jitsu por ser um ambiente predominantemente masculino. Não é fácil para uma mulher entrar em um tatame onde ela não tem identificação com praticamente ninguém. Por isso, há algumas coisas que podem ser feitas dentro da sua equipe para que elas se sintam mais seguras e bem-vindas no time.

• Explique cada detalhe, por mais simples que pareça ser para você;

Isso na verdade serve para cada um que pisar na academia pela primeira vez e não só para mulheres. Muitas vezes, por estarmos acostumados com aquele ambiente, tudo parece muito óbvio, mas o jiu-jitsu não é nada intuitivo. Cada detalhe vai fazer muita diferença para a mulher que está iniciando, desde o valor dos planos da academia, até como amarrar a faixa. Ah, e importante: deixe bem claro quais são os trajes de treino. Shorts, top e rash guard (ou camiseta). É importante avisar esse tipo de coisa antes para que você não precise passar por uma situação chata caso uma mulher não saiba que o kimono pode abrir e ela pode ficar exposta, tá? Como eu falei, não é óbvio para todo mundo.

• Entenda o objetivo daquela mulher;

É claro que você não pode chegar querendo puxar uma ficha da vida dela para que ela não se sinta invadida, mas é importante saber o que a levou até o jiu-jitsu. Pode ser algo mais comum, como para se exercitar e manter a forma física, ou pode ser algo mais grave, como a busca pela defesa pessoal por conta de algum abuso que ela já possa ter sofrido no passado - infelizmente, isso é mais comum do que se imagina. Entender o objetivo dela vai fazer toda diferença na hora de conduzi-la durante as aulas. Muitas delas podem ter algum trauma que não a deixem se desenvolver da maneira que deveria e alguns golpes podem ser um “gatilho” para algumas. Então é importante respeitar a individualidade de cada uma.

• Crie um ambiente “women friendly”;

Pelo fato dos homens não precisarem pensar em algumas particularidades femininas, acabam deixando isso de lado - e é completamente normal. Porém, você já pensou em deixar no banheiro feminino da academia itens como secador e prendedores de cabelo e um pacote de absorventes? Além de mostrar para as mulheres que lá existe um líder que se importa com o bem-estar delas, pode ser uma grande solução para otimizar o tempo delas e claro, evitar acidentes indesejados.

• Não incentive a rivalidade entre as mulheres;

Infelizmente, é muito cultural incitar a rivalidade entre as mulheres e, muitas vezes, sem nem perceber. A partir do momento que você tiver uma mulher em seu tatame, será um chamariz para muitas outras. Acontece que, conforme mulheres vão chegando, alguns colegas de treino tem a mania de fazer aqueles desafios: “quero ver você bater na fulana, hein? Aluna nova!”. Se você nunca pensou nisso, então pare e pense: esse tipo de brincadeira pode não ser saudável e acabar criando uma rivalidade entre as mulheres da equipe. Ninguém quer perder para ninguém, isso é fato. Mas uma mulher precisa da outra lá dentro. Uma precisa ser treino duro para a outra, mas de forma alguma de maneira rival. Então a minha sugestão é: por que ao invés de falar para sua colega de treino bater na novata, você não incentiva as duas a se conhecerem, treinarem posição juntas e trocarem experiências? É muito mais saudável e certamente, vai fazer a que está chegando se sentir mais à vontade para dar continuidade aos treinos.

• Não faça piadas e comentários machistas;

Lá vai a chata falar sobre machismo novamente, mas também é algo que acontece sem que muitos homens percebam. Não é legal tratar mulher como treino de descanso. Não é legal falar entre os parceiros de treino que “está treinando igual mulherzinha” por não estar num dia bom. Isso ofende - e muito - as mulheres e é um dos motivos que acabam afastando-as do esporte.

• Deixe-a segura para relatar qualquer problema dentro do tatame;

Em uma pesquisa que realizei em 2017 com 258 mulheres do jiu-jitsu, 159 declararam já ter sofrido assédio nos tatames. Ou seja, é mais comum do que se imagina e isso deve ser extinto (não só do jiu-jitsu, mas do mundo - então precisamos fazer nossa parte). Por isso, é importante que, principalmente o líder da equipe, passe segurança para que a mulher relate qualquer coisa e, caso ela venha relatar, que tome medidas severas contra quem cometeu o ato para provar que não é só um ouvinte, mas alguém que toma a atitude correta. E caso tenha alguma mulher que seja muito envolvida com a equipe, mesmo que não seja professora, tente deixá-la responsável pelo “time feminino”. As mulheres podem se sentir mais confortáveis em relatar algumas coisas para ela do que para um homem.

• Crie um horário feminino (se possível);

Um horário feminino pode ser uma porta de entrada para algumas alunas. Muitas não se sentem seguras em já serem inseridas em turmas avançadas ou se sentem mal por serem as únicas mulheres do treino. Um treino feminino vai fazê-la se sentir mais segura antes de partir para as aulas mistas. É incrível ainda quando se tem uma professora à frente do tatame, mas como nem sempre tem mulher graduada o suficiente na equipe para puxar um treino, coloque um professor de confiança para conduzir o treino.

É claro que um líder de equipe não consegue ter controle de tudo o que acontece da academia, mas ele é o maior exemplo de um time. Por isso, é importante que ele passe seus princípios a frente para que os alunos sigam, de fato, o exemplo.

Por: Mayara Munhos 

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